Anjo da Guarda
Poesias EspĂ­ritas
PEREGRINAÇÕES DA ALMA

À maneira do sangue, em gotas pequeninas
Que sai do coração por nossas veias finas,
Nossa vida a emanar da Luz da Divindade
Gravita ao infinito em busca à Eternidade

Nosso globo é local de prova e sofrimento;
É aí que estão o choro, os rangeres de dentes;
O inferno está aí, sim, e dele o livramento
Está na proporção dos males precedentes.

É assim que cada ser que deixa um mundo umbroso,
Mais ou menos se eleva a um outro mais etéreo.
Conforme puro então ou menos maculoso,
Seu ser se desenvolva ou ache outro critério.

Dos eleitos ninguém pode ao posto chegar
Sem que tenha expiado enfim seus malefícios,
Se com remorso, prece e constante pesar,
Seus males não cobrir um véu de benefícios.

O Espírito imperfeito ou alma em punição
Vem tomar novo corpo, aqui, para sofrer,
Renascer em família a cujo exemplo então
Depurar-se no bem, e de novo morrer.
Sua santa missão uma vez terminada,
Logo Deus o transporta a celeste esplendor,
E, progressivamente, é sua alma elevada
Ao infinito lar do oceano do amor.

Se em nossa marcha ocorre o término da prova,
Elevados com amor às santas regiões,
Iremos com triunfo, em harmonia nova,
Dos eleitos fazer crescer as legiões.

Para maior ventura e cúmulo de graça,
Aos que caros nos são Deus, lá, nos reunirá;
E unidos na afeição que santifica e enlaça,
No seu tão puro céu nos abençoará.

No bem, no belo, o modo enfim de ser mudando,
Alçar-nos-emos nós à sagrada cidade,
Onde veremos mais bem-estar alcançando,
Um tesouro sem fim de alta felicidade.

Desses mundos de luz galgando a escada imensa,
Mais depurados sempre e transpondo os confins,
Iremos terminar no ponto de nascença,
A renascer do amor radiosos serafins.

E de uma nova raça os primeiros seremos,
Os anjos guardiães dos homens que hão de vir,
Mensageiros de Deus dos ensinos que iremos
Enriquecer então os mundos do porvir.

De Deus tal é, eu creio, o seu real querer,
No imenso caminhar de nossa Humanidade,
Curvemo-nos, irmãos, sua ordem é poder;
Cantemos: “Glória a Deus por toda a Eternidade!”,

B. Joly, ervanário de Lyon

Observação – Procurando bem, os críticos meticulosos talvez possam encontrar alguns defeitos nesses versos. Deixamoslhes o encargo e consideramos apenas a idéia, cuja justeza, do ponto de vista espírita, ninguém pode ignorar. É bem a alma em suas peregrinações para chegar, pelo trabalho depurador, à felicidade infinita. Um verso, entretanto, parece dominar esse fragmento, aliás muito ortodoxo e não o poderíamos admitir; é o que está expresso na quadra da epígrafe: “Gravita ao infinito em busca à eternidade” Se por isto entende o autor que a alma sobe incessantemente, resulta que jamais chegaria à felicidade perfeita. Diz a razão que a alma, sendo um ser finito, sua ascensão para o bem absoluto deve ter um limite; que, chegada a um certo ponto, não ficará em perpétua contemplação, aliás, pouco atraente e que seria uma perpétua inutilidade, mas terá uma atividade incessante e bem-aventurada, como auxiliar da Divindade.

O ANJO-DA-GUARDA

(Sociedade Espírita Africana – Médium: Srta. O...)

Pobres homens, num mundo em convulsão,
Com oração secai os prantos,
E não temais ruja o trovão,
Perto de vós há os anjos santos.
Deus é tão bom. Deus vosso Pai,
A todos vós sempre quis dar
Um pequeno anjo que não cai
No esforço de vos proteger.
Escutai nossa voz amiga.
Oh! Ver-vos cheios de alegria;
E após a dor que vos fustiga
Ao céu levar-vos com valia!
Pudésseis vós sorrir nos ver
Da vossa infância nos primeiros passos,
Vossos olhos, mortais, nos nossos olhos ler
Podiam nossa dor ao ver-vos nos maus laços!
Mas escutai: Vos temos que ensinar
O segredo, no bem, de vossa integração,
Que a vós também, há de chegar
Serdes, um dia, anjo guardião.
Sim, quando terminar a vossa prova
Deus vos receberá o Espírito esmerado,
E vos enviará, na Terra, a uma alma nova,
Um belo nascituro a quem sereis levado.
Amai-o bem e que vossa assistência,
O pobrezinho tenha cada dia
De seu anjo guardião maternal companhia;
Por vossa vez, guiai com paciência
Vosso pupilo e irmão à dos céus moradia.

Observação – Este trecho e um outro, de certa extensão e não menos notável, intitulado: A Criança e o Ateu, que incluiremos no próximo número, foram publicados no Echo de Sétif (Argélia), de 31 de julho de 1862, precedidos da seguinte nota:

“Um dos nossos assinantes enviou-nos as duas poesias que se seguem, recebidas por um médium de Constantina, nos primeiros dias deste mês. Mesmo não os considerando isentos de crítica, do ponto de vista das regras de versificação, nós os reproduzimos porque explicam, pelo menos em parte, a Doutrina Espírita, que tende a se espalhar cada vez mais por toda a superfície do globo.”

Esse médium parece ter a especialidade da poesia. Já recebeu grande número de versos, que escreve com incrível facilidade, sem nenhuma rasura, embora não tenha noção das regras da versificação. Vimos um dos membros da Sociedade de Constantina, em presença do qual foram escritos.
R.E. , setembro de 1862, p. 383